Planejamento estratégico limita impacto de crises

01 de agosto de 2025
Valor Econômico

Falta de planejamento estratégico é uma questão crítica para as médias empresas, tema que ganha maior dimensão nos momentos de crise, como o atual. Em um ambiente já pressionado por juros altos, câmbio instável e aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), as organizações se deparam agora com a tarifa de 50% sobre uma lista de produtos brasileiros a partir de 6 de agosto, anunciada pelos EUA, o que impõe novos desafios aos negócios, principalmente no mercado americano.

A necessidade de fazer ajustes para se manterem competitivas é particularmente desafiadora para organizações de porte médio. Elas não contam com os benefícios fiscais das pequenas nem com a escala e a gestão estruturada das grandes companhias, observa o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Para enfrentar a turbulência, especialistas ouvidos pelo Valor consideram fundamental atualizar o planejamento estratégico. Também enfatizam a importância de reforçar a disciplina financeira e atuar coletivamente, via entidades de classe.

“No curto prazo, deve-se primeiro olhar para dentro, de modo a garantir a sobrevivência e a adaptação mais rápida”, afirma a vice-presidente da Mid by Falconi, Marina Barbosa Borges.

O economista Carlos Primo Braga, professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC), aponta três traços comuns entre as médias empresas que atravessam crises com mais solidez: elas evitam alavancagem elevada, mantêm alguma interface com o mercado internacional e investem continuamente em inovação.

Marina Borges orienta os gestores a projetar com clareza os impactos nas margens e na demanda, priorizar a liquidez e tomar decisões colegiadas. Também recomenda melhorar a gestão de estoques e investimentos. Ela avalia que a busca por novos mercados só faz sentido quando está alinhada ao resultado planejado, o que depende do segmento e da situação de cada empresa. Em alguns casos, manter o foco na retenção de clientes pode ser mais importante.

Na visão de Feldmann, falta de controle de caixa e dificuldade de acesso a crédito são os principais problemas em períodos de crise, agravados pelos juros elevados - razão pela qual ele desaconselha empréstimos bancários no momento. Se o cenário piorar, ele sugere que o governo deveria ampliar o crédito subsidiado por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

“No Brasil, não existe legislação que permita a formação de consórcios de pequenas e médias empresas, com exceção para as obras públicas”, comenta o professor da FEA. Ele defende mudanças nas leis e a participação do governo na fase inicial dos arranjos, para incentivar o aumento da participação desse segmento no comércio exterior, como ocorre com sucesso em alguns países europeus. “Menos de 1% das exportações brasileiras vêm das pequenas e médias empresas, enquanto na Itália são 53%, graças aos consórcios”, exemplifica.

No front do tarifaço promovido por Trump, atividades como agronegócio, madeira e produtos regionais - dependentes das exportações para os EUA - tendem a ser afetadas, diz Braga. Estão na tarifa de 50% carne bovina, café, frutas e roupas, por exemplo. Diante da dificuldade de acesso a novos mercados no curto prazo, ele recomenda focar em negociações comerciais e se articular com parceiros americanos que serão prejudicados pela alta das tarifas. “Não é um caminho fácil, mas é mais viável do que apostar em retaliações”.

O especialista em direito tributário Felipe Dias, da Marcos Martins Advogados, destaca que o aumento do IOF encarece o capital de giro e exige atenção redobrada à gestão financeira. “Uma alternativa é o uso de ativos pouco explorados, como precatórios, créditos tributários e valores em juízo, como forma de captar recursos por meio de fundos especializados”, diz. Ele recomenda criar comitês fiscais para mapear riscos e ajustar contratos diante da nova carga tributária. Também ressalta a relevância da atuação coletiva para acompanhar regras aduaneiras e defender os interesses do setor.

“A profissionalização é uma necessidade em tempos de incerteza, mas a boa notícia é que esse esforço gera retorno”, afirma Marina Borges. “Entre os mais de 400 projetos que temos, as empresas que investem em planejamento crescem, em média, 26% acima do mercado”.

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